O desempenho das escolas brasileiras na edição de 2011 do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) apontou, mais uma vez, o abismo que
separa o ensino privado das escolas públicas no Brasil. Enquanto a média
dos colégios particulares ficou em 596,2 pontos - em uma escala até 1
mil - a rede pública alcançou 474,2 pontos. Das 100 melhores, 10 são
públicas, sendo que apenas duas são ligadas à rede estadual, que
representa a maioria das matrículas no ensino médio. Para mudar essa realidade, que já é verificada em outras
avaliações - como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
-, especialistas em educação consultados apontam para a
necessidade de uma intervenção federal no ensino médio. De acordo com o
professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)
Ocimar Munhoz Alavarse, 92% das matrículas da rede pública hoje são de
responsabilidade dos Estados, que a cada ano apresentam mais
dificuldades em ampliar os investimentos na área.
"Muitos (Estados) não conseguem nem ao menos cumprir com o mínimo
de salário aos professores (Lei do Piso), imagina investir em
estrutura, em capacitação?", diz o especialista. Segundo ele, cabe ao
governo federal a decisão política de ampliar os investimentos em
educação e dar suporte aos Estados para melhorar o ensino. O professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (UnB) defende a necessidade de o Ministério da
Educação (MEC) ampliar seu enfoque, muito mais voltado ao ensino
universitário, para a educação básica. "O governo (federal) precisa
liderar o processo de mudança no ensino médio, assumindo um papel que
não tem feito nos últimos anos". Ele ainda vai além ao sugerir que os
institutos federais passem a dar suporte às escolas da rede estadual. Segundo ele, hoje o País tem cerca de 500 escolas federais,
quando o ideal seria que fossem mais de 2 mil. "Os colégios federais têm
desempenho muito próximo ao da rede privada. Nós já temos a fórmula, só
precisamos ampliar", defende. Segundo ele, como os investimentos para
aumentar a rede são elevados, seria fundamental que essas escolas já
instaladas estabelecessem uma espécie de "tutoria" à rede estadual,
oferecendo apoio pedagógico e capacitação.
A diferença das escolas federais está no salário e na formação
dos professores - boa parte com mestrado e doutorado - e também no
perfil dos estudantes. A maioria das escolas contam com uma sistema
rigoroso de seleção, para garantir o ingresso dos melhores alunos. Além
disso, a estrutura é melhor. Para Castioni, não é necessário federalizar todas as escolas de
ensino médio, mas sim apoiar essas instituições, assumindo um papel que
os Estados hoje não conseguem cumprir. "Temos um grande desafio
colocado, principalmente pelo fato de que em um espaço curto de tempo,
50% dos alunos das universidades serão provenientes rede pública (por
causa da Lei de Cotas). Se não encararmos a melhoria da qualidade do
ensino, vamos receber alunos com muitas deficiências", analisa.
Os especialistas também concordam com a necessidade de se acabar com o
ensino noturno na educação básica. "Nesses dados do Enem, por exemplo,
estamos comparando alunos da elite do ensino privado brasileiro com
aqueles que trabalham o dia inteiro e à noite vão para a escola. É muita
diferença", alerta o professor da USP. Para Alavarse, é preciso
construir uma política federal que garanta o suporte aos estudantes para
que não precisem trabalhar até a conclusão do ensino médio. O desempenho das escolas na edição de 2011 do Enem foi divulgado na quinta-feira e pode ser consultado no site
do MEC. Segundo o levantamento, das pouco mais de 10 mil escolas
analisadas, 47,62% eram privadas. A maior dos estudantes que prestaram o
exame (83,86%) tem renda familiar per capita entre um e cinco salários
mínimos (de R$ 622,00 a R$ 3,1 mil). De acordo com o MEC, a média das escolas privadas ficou em 596,2
pontos. Já as escolas da rede pública alcançaram 474,2 pontos. Entre as
100 primeiras colocadas no levantamento, apenas dez são públicas.
(Fonte: Portal Terra)
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