A OAB do Rio de Janeiro, com o auxílio de suas subseções distribuídas em todo o Estado, elaborou um detalhado diagnóstico da situação "caótica" do Poder Judiciário fluminense e que será encaminhado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para demonstrar a gravidade da situação da justiça em um dos estados mais importantes do país. A falta de juízes, de serventuários e a precária estrutura material foram os principais problemas apurados e, segundo o presidente da entidade, Wadih Damous, entre os órgãos judiciais mais problemáticos aparecem os Juizados Especiais, tratados pelo Poder Judiciário fluminense como 'órgãos de categoria inferior e que não merecem o mesmo tratamento dos demais'.
Damous aponta alguns resultados : há cinco anos o município
de Itaperuna não tem juiz titular e o de Vassouras, há quatro. A Vara de
Família de Magé, com seis mil processos, também não, como muitas outras do
interior. O juiz de Búzios acumula a função em três comarcas o que resulta em
extrema morosidade e até paralisação de processos. O fato se repete nos demais municípios e, segundo Damous, se
o CNJ não tomar uma providência urgente a tendência é piorar cada vez mais. O diagnóstico aponta ainda a falta de critério isonômico na
aplicação dos recursos financeiros à disposição do Tribunal de Justiça do
estado. "Enquanto a segunda instância recebe investimentos permanentes e
substanciais, com a construção de verdadeiros palácios e estrutura física de
primeira qualidade, há serventias caindo aos pedaços e superlotadas,
especialmente na Baixada Fluminense".
Esse quadro contrasta, segundo Damous, com o fato de que o
TJ-RJ, ao contrário dos demais espalhados pelo país, tem autonomia na aplicação
de seus recursos financeiros, por meio do chamado Fundo Especial, para o qual
são destinados os valores das custas judiciais. "Essa autonomia, que, a princípio, deveria resultar em
uma boa prestação Jurisdicional, blindando o Poder Judiciário contra potencial
controle político por parte do Poder Executivo, acaba, na prática, revertendo
negativamente no que tange ao acesso à Justiça", destacou. Segundo Damous,
o fato ocorre porque a autonomia orçamentária acabou por gerar uma sanha
arrecadatória sem paralelo em outros tribunais da federação, o que gera algumas
consequências negativas.
O dirigente da Seccional da OAB explica que, em primeiro
lugar, é notória a dificuldade em se obter o benefício da gratuidade de
Justiça. Os juízes fluminenses atuam com rigor excessivo na apreciação de
requerimentos dessa natureza, exigindo, por vezes, até mesmo a declaração
completa do Imposto de Renda, bem como outras formas de comprovação da
hipossuficiência, apesar de a lei exigir apenas a auto declaração. Segundo ele,
o TJ criou um cipoal de normas administrativas referentes à cobrança de custas,
quase sempre para tornar mais custosos os atos processuais, e cuja proliferação
dificulta o correto recolhimento.
Damous revelou também que a sanha arrecadatória do TJ
desestimula atitudes que poderiam contribuir para a economia processual. No caso de se acumularem pedidos de natureza
diversa (declaratório, obrigação de não fazer e condenatório, por exemplo),
incidem a taxa judiciária e demais emolumentos como se se tratasse de três
ações autônomas. "Para uma ação com esses três pedidos cumulados, mesmo
sem valor econômico definido (taxa judiciária mínima, portanto), incidem custas
totais de pouco mais de R$ 1.000,00 (mil reais)", afirmou o presidente da
OAB.
(Fonte: Jornal do Brasil)
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