O governo federal tem no seu orçamento R$ 835,2 milhões reservados
para obras que possam diminuir os efeitos nocivos das chuvas na região
serrana do Rio de Janeiro ainda em 2013. Mas a região que perdeu 33
pessoas vítimas de desabamentos e deslizamentos de encostas somente
neste mês de março corre o risco de não conseguir utilizar todo o
montante. Da previsão de gasto até a execução, boa parte das verbas tem
se perdido na burocracia e na lentidão do poder público. Só em
Petrópolis, a região mais atingida pelas últimas chuvas, foram
concluídas desde 2011 obras de apenas R$ 4,7 milhões. Projetos e
licitações com valor total de R$ 66 milhões ainda precisam ser
terminados. A prefeitura atribui à gestão anterior a demora para
conclusão dos projetos e a secretaria estadual de obras (que faz o
levantamento de todas as ações necessárias para conter os efeitos das
tempestades) afirmou, em nota, que tem sido difícil encontrar terrenos
para construção de casas com verba do governo federal.
Invariavelmente,
as prefeituras da serra fluminense apresentam os mesmos problemas para
viabilizar projetos que saiam do papel. Empacam em licenças ambientais
que não saem, desapropriações (muitas famílias se recusam a ser
removidas) e licitações demoradas, dificuldades para encontrar terrenos e
até problemas de engenharia para viabilizar construções. Do total, o
governo federal já colocou R$ 545 milhões à disposição das prefeituras
da região serrana em agosto do ano passado para obras de
desassoreamento, dragagem e canalização de rios. Mas, até agora, nenhuma
licitação foi concluída.
Irregularidades
Há 74
intervenções de infraestrutura por fazer na região serrana com R$ 290,2
milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). São obras de
contenção de encostas e reconstrução de pontes, por exemplo. As verbas
só são liberadas pelo governo federal depois da aprovação dos projetos
apresentados pelas prefeituras. Os tribunais de contas do Estado e da
União fiscalizam a execução das obras. E invariavelmente questionam a
legalidade de várias medidas, o que pode fazer o Ministério Público
entrar em campo. Correm ações civis públicas em todas as cidades da
região serrana cobrando ações mais efetivas das prefeituras – a mais
recente foi ajuizada pela 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva
que exige obras contra transbordamento nos rios Quitandinha e Piabanha.
Um
relatório recente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) faz uma
série de críticas à atuação da secretaria de obras e às prefeituras de
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo depois das chuvas de 2011 que
vitimaram mais de 900 pessoas. O documento aponta irregularidades como
sucessivas dispensas emergenciais, além do atraso nas obras que já estão
em andamento e constante reformulação de contratos. A secretaria e a
prefeitura têm 30 dias para responder aos questionamentos do
tribunal. Na última quarta-feira, o Ministério da Integração Nacional
liberou mais R$ 8 milhões de forma emergencial apenas para Petrópolis
providenciar auxílio direto das vítimas e recuperação de vias urbanas. O
prefeito Rubens Bontempo afirmou necessitar de R$ 112 milhões.
“Precisamos de R$ 12 milhões já. O restante é para reconstrução da
cidade. Identificamos 300 pontos de deslizamentos que vão precisar de
alguma obra de contenção”, disse.
O governo federal tenta resolver
os impasses que atravancam a conclusão das obras. A presidente Dilma
Roussef cobrou medidas drásticas na semana passada enquanto os corpos
das vítimas ainda estavam sendo retirados da terra enlameada. “Estamos
avaliando junto ao Tribunal de Contas da União como reduzir exigências
para a aplicação de verbas emergenciais, como contratar obras já na fase
de anteprojeto”, contou o ministro da Integração Nacional, Fernando
Bezerra.
Aluguel social
Enquanto as obras
necessárias para diminuir os efeitos das chuvas na região serrana não
saem do papel, o governo do Estado é obrigado a pagar o chamado aluguel
social aos desabrigados. Outra ação civil pública obriga a Secretaria
Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos a providenciar o
benefício para os desalojados pelas chuvas recentes. A secretaria
informou que está fazendo um cadastramento dos afetados. O aluguel
social custou no mês de março R$ 3,18 milhões à secretaria. Os valores
podem crescer com o aumento do número de pessoas afetadas. Atualmente,
6.564 famílias recebem o benefício, que varia de R$ 400 a R$ 500 de
acordo com a cidade. Nova Friburgo (2.705) e Teresópolis (1.838) são os
municípios com o maior número de famílias atendidas. Elas vão permanecer
recebendo o auxílio, que custa quase R$ 40 milhões aos cofres estaduais
por ano, até receberem novas moradias. Por enquanto, nenhuma família
afetada pela tragédia de 2010 recebeu um novo lugar para morar
definitivamente.
(Fonte: Jornal do Brasil)
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