Um mistério ronda o Flamengo (na verdade, são muitos, este é
um em particular): em maio de 2011, o Flamengo firmou um contrato de
licenciamento com a marca francesa de relógios Hublot. O fabricante iria
produzir duas séries de 250 relógios com o escudo do Rubro-Negro. O nome do
modelo já parecia um prenúncio : Big Bang Flamengo. Em troca o Flamengo iria
receber R$ 500 mil e mais seis relógios da grife, avaliados em R$ 40 mil cada
uma das peças. Na cerimônia, o presidente da Hublot, Jean-Claude, presenteou a
presidente Patricia Amorim com um relógio da marca. O lançamento foi um sucesso
entre os rubro-negros de maior poder aquisitivo. Dentro e fora do Brasil.
Apenas no exterior, foram vendidas mais de 60 peças, num negócio total de R$
2,4 milhões. Afinal, o Flamengo é o time do povo. Porém, de todos os povos.
Alguns relógios foram reservados a rubro-negros ilustres, de
longa data, ou nem tanto. Reservados para a compra, claro. Ronaldinho Gaúcho
poderia ter o número 1 – coisa fina é sempre numerada. Mas talvez antevendo que
seu futuro na Gávea não seria longo, declinou. O técnico Vanderlei Luxemburgo
não se fez de rogado e arrematou o número 2. Se um dia realizar o sonho de ser
presidente do clube, não fará feio na posse, pelo menos no relógio. A Zico, o eterno
ídolo, foi reservado, claro, o 10. Mas o Galinho, que não é de luxo, tampouco
comprou. Passados 20 meses do acordo,
toda a primeira série está praticamente esgotada. Há pouquíssimos exemplares
que ainda estão à venda. Por isso, foi lançada uma segunda, mais 250 relógios, estes de ouro, a
105 mil reais a unidade – chamados de Big Bang II. Praticamente o preço de um
automóvel de luxo. Se o fabricante vender todos os 500, a receita total será de
R$ 36,3 milhões. Desse total, só R$ 500 mil foram para o Flamengo. E mais seis
destes luxuosos objetos.
Mas para quem
ficaram? De um dos relógios se conhece o paradeiro. Em sua posse como
presidente eleito, Eduardo Bandeira recebeu-o da presidente que deixava o
cargo, Patricia Amorim. Decerto, sem se aperceber da situação, Bandeira o
recebeu de bom grado. Foi uma felicidade passageira. Logo de manhã, foi
alertado por amigos e aliados de que não poderia ficar com o presente, pois não
se tratava de um brinde, mas de uma joia pertencente ao clube. Na hora, mandou guardar
o Hublot no cofre. Do Flamengo, claro. Mas ainda sobram cinco. Quando assinaram
o contrato, disseram que eram para os seis presidentes de Conselho – Diretoria,
Deliberativo, de Administração, Fiscal, Beneméritos, Assembleia Geral – diz
Leonardo Ribeiro, presidente do Fiscal.
– Eu não recebi. Se tivesse teria vendido para comprar um
carro, porque não tenho nenhum – justificou. Walter D’Agostino, vice-presidente
geral do clube, diz que não viu ninguém discutir sobre o assunto. Outras
pessoas no Flamengo garantem que a versão da distribuição é fantasiosa. E
existem outras. Há notícias que tenham sido distribuídos a ídolos do clube,
como o próprio Zico. Mas um conselheiro afirma que ficaram com Amorim – que
teria sido aconselhada a devolvê-los. O LANCE! procurou Patricia o dia todo.
Seu marido, Fernando Sihman, disse desconhecer o assunto. Uma antiga assessora
disse que um exemplar foi para o futuro Museu do Flamengo. Marcos Eduardo
Neves, curador do Museu, disse que não foi informado de nada. A última reunião
da equipe do museu foi há cerca de seis meses, mais de um ano depois de os
relógios, ao menos em tese, terem sido entregues ao clube.
O L! procurou a nova diretoria para saber sua posição
oficial. A única resposta que obteve é que o conteúdo do cofre não pode ser
informado. Ninguém perguntou. Ainda não há inquérito para o caso. Leonardo
Ribeiro, presidente do Conselho Fiscal, deve abrir hoje um inquérito para
apurar o destino dos cinco relogios da marca Hublot que estão supostamente
desaparecidos do Flamengo. Segundo Ribeiro, o valor total dos objetos, cerca de
R$ 200 mil, é relevante o suficiente para merecer uma investigação. A diretoria
do Flamengo, embora não tenha se manifestado oficialmente até o fechamento
desta edição, também pode abrir uma apuração própria. E o Conselho de
Administração do clube poderá seguir um caminho semelhante.
Uma versão pirata do relógio Big Bang Fla produzido pela
Hublot em parceria com o Flamengo, já circula dentro do próprio clube e no
pulso de conselhei-ros. O LANCE! apurou que um conselheiro o comprou por R$ 900
e que outros já pediram ajuda para comprar. Além disso, um site de pirataria em
português que usa o nome da cidade de Miami oferece a réplica a meros R$ 398.
Pela lei brasileira, essas réplicas são ilegais.
(Fonte: Diário Lance)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.